sábado, 14 de setembro de 2013

Mãe Meninazinha de Oxum - O imaterial em São João de Meriti

Por Pâmella Nunes

                   Como acredito que uma das funções do produtor cultural seja mostrar/dar voz a manifestações culturais, dedico essa postagem ao Candomblé que de acordo com o Dicionário de Cultos Afro-brasileiros de Olga Gudolle Cacciatore é o lugar onde se realizam cerimônias ligadas a tradições africanas possuindo diferentes rituais e origens pois possuem variadas línguas, hábitos, costumes, rituais, preceitos e culinária.  E que a partir da Lei 5506/09 e do Projeto de Lei Nº 2303/2009 foi declarado como patrimônio imaterial do estado do Rio de Janeiro.
                 Dentro desse contexto como não citar a Mãe Meninazinha de Oxum, uma Iyalorixá (sacerdotisa e chefe de um terreiro de Candomblé Ketu, popularmente denominada mãe de santo.) que é, de acordo com o mapa cultural do Rio de Janeiro, patrimônio imaterial da cidade de São João de Meriti,  uma cidade que fica na região metropolitana da baixada fluminense com mais de 460.00 habitantes.
                                Mãe Meninazinha de Oxum, hoje com 74 anos,  tem raiz na alta linhagem do candomblé da Bahia e é uma das mais poderosas religiosas celebradas do estado do Rio. Ela comanda o terreiro Ilê Omolu Oxum que desde 1968 está situado em São João De Meriti e se dedica a preservar os ritos do candomblé e acolher religiosamente a comunidade local.

Foto: Isabela Kassow / Diadorim Ideias.

                   O terreiro virou ponto de cultura desde 2009 realizando projetos sociais e culturais como oficinas de artesanato, de dança e pintura afros, e culinária típica e ainda tem o Memorial Iyá Davina, espaço de pesquisa e documentação, que tem em seu acervo objetos, fotografias, desenhos, certidões e textos referente à religião dos orixás e à formação das primeiras comunidades e terreiros de candomblé no Rio de Janeiro.
             Apesar de entendermos que esse reconhecimento tem muita importância, pois as religiões e manifestações afro-brasileiras sofrem muita perseguição e preconceito é preciso não se perder de vista que a relação entre os grupos que o compõem e se utilizam desse patrimônio e o estado como o órgão protetor é muitas vezes conflituosa, visto que são compostos muitas vezes por interesses divergentes e sobre concepções diferentes sobre o que é esse patrimônio. É preciso ter cuidado para que não se torne algo engessado e de posse de uma comunidade que não quer tê-la dessa forma, pois tende a aceitar que as mudanças ocorram, visto que as manifestações estão livres para sofrerem influências das épocas em que vivem e isso acabarem lhe conferindo alguma mudança peculiar, mesmo que mantendo sua essência.
                    Finalizo a discussão com uma resposta do Gilberto Gil, que já foi ministro da cultura e  a quem considero um grande contribuidor na mudança de olhar do poder público para a cultura,  feita por algum representante do IPHAN sobre tombamento de terreiros.

                   IPHAN ( Instituto do Patrimônio Histórico, Artístico Nacional) - Qual a importância desse e de outros tombamentos de terreiro já realizados pelo Iphan?
                  Gilberto Gil - "O que são os terreiros de candomblé? São locais de permanência da vida cultural de um povo originalmente africano e depois brasileiro, que se tornou brasileiro aqui, ao longo da história, através da reprodução das suas matrizes africanas e a partir da interação dessas matrizes com outras matrizes, ameríndias, européias. No processo de conjugação dessas culturas, o terreiro de candomblé, esse locus, tem sido importantíssimo. São as interações das religiões africanas vindas do Golfo da Guiné com o animismo indígena daqui, com as religiões mais conceituais do mundo católico, cristão. O terreiro de candomblé, então, é um laboratório desse processamento religioso brasileiro a partir, especialmente, da vertente africana. É uma coisa valiosíssima. Tem sido valioso para o passado, é valioso hoje e permanecerá valioso para o futuro. É um conjunto de manifestações religiosas que se estendem para vários outros campos, a música, a dança, a culinária, a indumentária, a relação com a natureza, a dimensão ecológica, tudo isso o terreiro de candomblé abriga com uma característica muito própria. E, além disso, é também um lugar de abrigo desse patrimônio humano, desse capital chamado povo afro-brasileiro."

O mochilão imaterial espera que cada um possa se dar a chance de conhecer o diferente e de quem sabe deixá-lo nos conquistar para sermos cada vez mais tolerantes e merecedores efetivamente da fama de país multicultural e que aceitemos que todos somos transculturais. E para contibuir com isso deixo pra vocês a genda do terreiro Ilê Omolu Oxum.Façam uma visita.

Quando: O terreiro organiza festas para Ogum e Oxóssi (abril), Oxum (maio), Omolu (julho), Iansã (agosto), Oxalá (setembro) e para as ayabás, como são chamadas as orixás femininas (novembro), sempre no último sábado do mês.
Endereço: R. Gen. Olímpio Fonseca, 380, Parque São Nicolau
Telefone: (21) 2756-7635


Links acessados:  
http://mapadecultura.rj.gov.br/sao-joao-de-meriti/terreiro-da-mae-meninazinha-de-oxum 
http://www.seppir.gov.br/noticias/ultimas_noticias/2009/07/umbanda_imaterial  
http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=2568:catid=28&Itemid=23
http://culturadigital.br/politicaculturalcasaderuibarbosa/files/2012/09/Rodrigo-Pereira-et-alii.pdf 

Um comentário:

  1. Bem legal! E tenho uma sugestão de leitura para o pessoal do blog. Uma não, duas: o livro do Canclini que se chama Diferentes, Desiguais e Desconectados, onde o autor fala de interculturalidade para além da multiculturalidade; e o livro da Stela Guedes sobre Crianças de Candomblé. PArabéns pelo blog e pelo tema!

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